a inútil precaução e o fundo do baú
Ontem fomos à ópera. Pela primeira vez desde que chegamos por essas terras (sem julgamentos, por favor). E, não, não tinha terminado o mestrado. Sim, "não tinha terminado". Mas, não, não terminei ainda. Enfim, quero falar sobre a ópera.
Estreamos bem, ópera light: O Barbeiro de Sevilha, de Gioachino Rossini. Quer dizer, Rossini baseou-se na comédia do francês Pierre Beaumarchais, chamada "O barbeiro de Sevilha, ou a inútil precaução". A original teria quatro atos (!). Na verdade, pelo o que consta, cada ato é dividido em volets (alô galera da ópera, alguém me acode aqui, please), acho que posso traduzir por partes. Enfim, essa seria apenas a primeira parte de uma trilogia (acredito que a trilogia forme um ato) chamada "O romance da família Almaviva".
Ok, vocês sacaram o quanto eu entendo de ópera, certo? Tanto quanto uma pessoa preguiçosa que nem pesquisa na Internet faz direito (give me a break, eu tô fazendo mestrado. vou fazer uma blusa com esses dizeres. é a melhor desculpa que tenho para ser relapsa!).
A noite não começou lá muito bem. Cheguei em cima do laço e tivemos que comprar um sanduíche às 19h10, quando que a ópera começava às 19h30. Pile (em ponto, para francês). Resultado: vimos o primeiro ato (são dois ao todo. ópera moderna não pode mais ter um milhão de horas) sem poder ler as legendas.
Enfim, escrevo sobre o Barbeiro porque ela me fez lembrar de uma porção de coisas. Foi tipo um brainstorme de quase três horas.
Como eu disse, ópera moderna. Então, eles aproveitaram o lado fanfarrão, leve da ópera, para colocar umas pitadas atuais.
Eu tô lá, séria. Mas, logo depois de uns 10 minutos de ópera, me aparece o bonachão Fígaro. Lembrou-me alguém, mas não estava visualizando a pessoa. Ele chega com umas dessas sombrinhas de frevo usada de forma herege como sombrinha, dessas que a gente acopla na roupa para não precisar segurar. Isso, dessas que vendedor ambulante de praia usa. Isso, essa mesmo. Importação brasileira, pensei eu, certa de que era 100% produto brasuca. É assim a gente vai conquistar o mundo.
Tá bom, O barbeiro de Sevilha é uma ópera sem mortes, sobre amor e que acaba com final feliz. E, convenhamos, o cara é um barbeiro, simpático, gente boa. Mas, ele chegou no palco, com aquela sombrinha na cabeça, carregando o seu boticário pocket e uns extras para vender: cordões de ouro. Muito, muito rua da Alfândega. Assim, vestido daquele jeito, eu tava entendendo muito melhor a ópera, sabe? Ajudou saber que Fígaro era tipo um malandro carioca, tentando ganhar a vida. Beleza.
Aí, eis que aparece, bem depois, o personagem que vai ajudar o tutor da heroína a se casar com ela. Sim, um adendo da história: rapaz rico se apaixona por moça rica. Ela, órfã, tem um tutor safado que só pensa no dinheiro dela e, por isso, quer se casar com a rapariga. Ele, claro é feio e velho. O outro, rico, bonito e jovem como ela.
Enfim, Eis que aparece um personagem que vem tentar ajudar o tutor a se casar com a mocinha. Na sua entrada, o cravo toca as primeiras notas da Pantera cor-de-rosa! Bom, pra início de conversa eu acho que era um cravo. Não tenho, assim, 100% de certeza. Mas é certo que era a introdução da pantera. Isso eu sei!!!
Depois, chega a vez de uma coadjuvante fazer um "solo". E ela começa a dançar diferente e, no fim, saca um boné vermelho! Talvez lembre o Juventus, realmente, essa eu não entendi. O povo riu.
Mas o fim foi apoteótico. Realmente, incrível. Eles, já juntos, casados, até, o mocinho, super contente, canta, claro. Todo o elenco está no palco. Num dado momento, de tão feliz, ele arranca a camisa. Pois é, arranca a camisa para aparecer uma por baixo. Uma camisa da azurra, número dez. Nesse mesmo momento, aparece uma bola de futebol. Ele brinca com a bola. Os coadjuvantes, em peso, sacam bandeirolas da Itália. Momento lindo. O público veio abaixo! Opéra Bastille inteiro em aplausos por minutos e mais minutos.
Na saída, naquele momento que todo o opéra sai ao mesmo tempo, ouço comentários como magnifique, superbe.
Isso me fez pensar e lembrar de várias coisas. A primeira foi que: se fosse uma montagem brasileira neguinho ia cair em cima das pitadas engraçadinhas. D-U-V-I-D-E-O-D-Ó que algum metido a besta ia gostar. Ia falar que brasileiro não entende nada de ópera, que aquilo era palhaçada, patati patatá. Aposto.
A outra coisa que me fez lembrar foi a ópera em que assistimos em Praga. Don Giovani. Outro clássico. Isso foi em 2001. Queríamos aproveitar que estávamos na Europa para "respirar cultura", não é mesmo? Sair desse país calorento, tropical demais, com selvagens, para civilizar-nos. Era importante.
Pois é....
Don Giovani.
Em Praga. Não podia dar errado, né?
Bom, não sabíamos, mas, podia dar muito errado. Pra início de conversa, era uma versão muderna. Não, não como o barbeiro de agora. Note a diferença: lá em cima, moderna, cá embaixo, muderna. Até porque, se fosse para escrachar com o barbeiro, ele seria um castrati interpretando uma drag queen cabeleireira. Pois, então...
Pra início de conversa:
Don Giovani não poderia, jamais, ser um castrati em forma de drag queen, então, nessa versão ele era um... estilista.
Putz, agora não sei se ele era cabeleireiro ou estilista. ok, vamos supor que ele era um estilista (pra que piorar, não é mesmo?).
depois e ele entrou no palco com uma moto... isso mesmo. Don giovani wild.
E, o grand finali: ele andava com uma jaqueta de couro, uns óculos escuros e um penteado... que, sinceramente, não sei se posso chamar de ópera muderna porque ela tinha ares de anos 80 total. E, convenhamos que, anos 80 em 2001 não era exatamente uma montagem atual da ópera, né? Tudo bem que ela foi motada em de 1787, mas, por favor, sem exageros e deixemos os anos 80 de lado.
Nossa, nessa a gente errou feio! Muito feio. detalhe: Mozart fez a primeira apresentação da ópera em Praga... Heresia total. Vou pro inferno só por ter presenciado isso.
E eu nem vou falar do teatro de sombras-pega-turista que encaramos nessa mesma temporada... oh, boy, eu preciso voltar a Praga.
Ok, o barbeiro de sevilha me fez lembrar de várias coisas. Primeiro nos intelectuais fofos brasileiros, depois no frevo pernambucano (coitado do frevo!), e no...ah!, lembrei, no Zé das medalhas! Isso. Fígaro se parecia com um Zé das medalhas light! Para quem não conhece, é figura lendária do Leme, bairro carioca. Tá bom, confesso, estou exagerando... Tem uma imagem ruim da montagem aqui. mas eram outros atores quando fui.
Depois, ainda me fez lembrar de Don Giovani, que tinha largado num baú, fechado a sete chaves... Enfim...
E, finalmente, lembrei do mardito teatro de sombras theco. Ok, não foi tão ruim assim. Ou talvez ele ainda não tenha saído do baú.
Puz, e ele acabou de me lembrar de que ainda não terminei meu texto!!
PS: lembrei disso aqui também:
Estreamos bem, ópera light: O Barbeiro de Sevilha, de Gioachino Rossini. Quer dizer, Rossini baseou-se na comédia do francês Pierre Beaumarchais, chamada "O barbeiro de Sevilha, ou a inútil precaução". A original teria quatro atos (!). Na verdade, pelo o que consta, cada ato é dividido em volets (alô galera da ópera, alguém me acode aqui, please), acho que posso traduzir por partes. Enfim, essa seria apenas a primeira parte de uma trilogia (acredito que a trilogia forme um ato) chamada "O romance da família Almaviva".
Ok, vocês sacaram o quanto eu entendo de ópera, certo? Tanto quanto uma pessoa preguiçosa que nem pesquisa na Internet faz direito (give me a break, eu tô fazendo mestrado. vou fazer uma blusa com esses dizeres. é a melhor desculpa que tenho para ser relapsa!).
A noite não começou lá muito bem. Cheguei em cima do laço e tivemos que comprar um sanduíche às 19h10, quando que a ópera começava às 19h30. Pile (em ponto, para francês). Resultado: vimos o primeiro ato (são dois ao todo. ópera moderna não pode mais ter um milhão de horas) sem poder ler as legendas.
Enfim, escrevo sobre o Barbeiro porque ela me fez lembrar de uma porção de coisas. Foi tipo um brainstorme de quase três horas.
Como eu disse, ópera moderna. Então, eles aproveitaram o lado fanfarrão, leve da ópera, para colocar umas pitadas atuais.
Eu tô lá, séria. Mas, logo depois de uns 10 minutos de ópera, me aparece o bonachão Fígaro. Lembrou-me alguém, mas não estava visualizando a pessoa. Ele chega com umas dessas sombrinhas de frevo usada de forma herege como sombrinha, dessas que a gente acopla na roupa para não precisar segurar. Isso, dessas que vendedor ambulante de praia usa. Isso, essa mesmo. Importação brasileira, pensei eu, certa de que era 100% produto brasuca. É assim a gente vai conquistar o mundo.
Tá bom, O barbeiro de Sevilha é uma ópera sem mortes, sobre amor e que acaba com final feliz. E, convenhamos, o cara é um barbeiro, simpático, gente boa. Mas, ele chegou no palco, com aquela sombrinha na cabeça, carregando o seu boticário pocket e uns extras para vender: cordões de ouro. Muito, muito rua da Alfândega. Assim, vestido daquele jeito, eu tava entendendo muito melhor a ópera, sabe? Ajudou saber que Fígaro era tipo um malandro carioca, tentando ganhar a vida. Beleza.
Aí, eis que aparece, bem depois, o personagem que vai ajudar o tutor da heroína a se casar com ela. Sim, um adendo da história: rapaz rico se apaixona por moça rica. Ela, órfã, tem um tutor safado que só pensa no dinheiro dela e, por isso, quer se casar com a rapariga. Ele, claro é feio e velho. O outro, rico, bonito e jovem como ela.
Enfim, Eis que aparece um personagem que vem tentar ajudar o tutor a se casar com a mocinha. Na sua entrada, o cravo toca as primeiras notas da Pantera cor-de-rosa! Bom, pra início de conversa eu acho que era um cravo. Não tenho, assim, 100% de certeza. Mas é certo que era a introdução da pantera. Isso eu sei!!!
Depois, chega a vez de uma coadjuvante fazer um "solo". E ela começa a dançar diferente e, no fim, saca um boné vermelho! Talvez lembre o Juventus, realmente, essa eu não entendi. O povo riu.
Mas o fim foi apoteótico. Realmente, incrível. Eles, já juntos, casados, até, o mocinho, super contente, canta, claro. Todo o elenco está no palco. Num dado momento, de tão feliz, ele arranca a camisa. Pois é, arranca a camisa para aparecer uma por baixo. Uma camisa da azurra, número dez. Nesse mesmo momento, aparece uma bola de futebol. Ele brinca com a bola. Os coadjuvantes, em peso, sacam bandeirolas da Itália. Momento lindo. O público veio abaixo! Opéra Bastille inteiro em aplausos por minutos e mais minutos.
Na saída, naquele momento que todo o opéra sai ao mesmo tempo, ouço comentários como magnifique, superbe.
Isso me fez pensar e lembrar de várias coisas. A primeira foi que: se fosse uma montagem brasileira neguinho ia cair em cima das pitadas engraçadinhas. D-U-V-I-D-E-O-D-Ó que algum metido a besta ia gostar. Ia falar que brasileiro não entende nada de ópera, que aquilo era palhaçada, patati patatá. Aposto.
A outra coisa que me fez lembrar foi a ópera em que assistimos em Praga. Don Giovani. Outro clássico. Isso foi em 2001. Queríamos aproveitar que estávamos na Europa para "respirar cultura", não é mesmo? Sair desse país calorento, tropical demais, com selvagens, para civilizar-nos. Era importante.
Pois é....
Don Giovani.
Em Praga. Não podia dar errado, né?
Bom, não sabíamos, mas, podia dar muito errado. Pra início de conversa, era uma versão muderna. Não, não como o barbeiro de agora. Note a diferença: lá em cima, moderna, cá embaixo, muderna. Até porque, se fosse para escrachar com o barbeiro, ele seria um castrati interpretando uma drag queen cabeleireira. Pois, então...
Pra início de conversa:
Don Giovani não poderia, jamais, ser um castrati em forma de drag queen, então, nessa versão ele era um... estilista.
Putz, agora não sei se ele era cabeleireiro ou estilista. ok, vamos supor que ele era um estilista (pra que piorar, não é mesmo?).
depois e ele entrou no palco com uma moto... isso mesmo. Don giovani wild.
E, o grand finali: ele andava com uma jaqueta de couro, uns óculos escuros e um penteado... que, sinceramente, não sei se posso chamar de ópera muderna porque ela tinha ares de anos 80 total. E, convenhamos que, anos 80 em 2001 não era exatamente uma montagem atual da ópera, né? Tudo bem que ela foi motada em de 1787, mas, por favor, sem exageros e deixemos os anos 80 de lado.
Nossa, nessa a gente errou feio! Muito feio. detalhe: Mozart fez a primeira apresentação da ópera em Praga... Heresia total. Vou pro inferno só por ter presenciado isso.
E eu nem vou falar do teatro de sombras-pega-turista que encaramos nessa mesma temporada... oh, boy, eu preciso voltar a Praga.
Ok, o barbeiro de sevilha me fez lembrar de várias coisas. Primeiro nos intelectuais fofos brasileiros, depois no frevo pernambucano (coitado do frevo!), e no...ah!, lembrei, no Zé das medalhas! Isso. Fígaro se parecia com um Zé das medalhas light! Para quem não conhece, é figura lendária do Leme, bairro carioca. Tá bom, confesso, estou exagerando... Tem uma imagem ruim da montagem aqui. mas eram outros atores quando fui.
Depois, ainda me fez lembrar de Don Giovani, que tinha largado num baú, fechado a sete chaves... Enfim...
E, finalmente, lembrei do mardito teatro de sombras theco. Ok, não foi tão ruim assim. Ou talvez ele ainda não tenha saído do baú.
Puz, e ele acabou de me lembrar de que ainda não terminei meu texto!!
PS: lembrei disso aqui também: