a partida
Faltam 10 meses para que a gente volte para o Brasil. Talvez nove. Talvez onze. Ainda não sabemos. Mas já estou pensando no assunto. Já falei para vocês que sou tensa e que sofro? Bom, talvez não o suficiente. Enfim, sofro por antecipação; antecipo o sofrimento.
Não, voltar não será um sofrimento. Mas a partida será. Entende? Sem contar com o processo de de mudança - que será infernal.
Ou seja, temos aí três níveis de sofrimento:
1. a mudança - e suas nuances, tensões e trabalhos físicos de fazer caber 35 metros quadrados de quinquilharias, jogos, papéis e livros em pequenas caixas.
Para desenvolver melhor esse tópico, tenho que pesquisar mais sobre como enviar essas coisas para o Brasil. Conheço dois esquemas pelo correio francês e um terceiro por navio.
1.1. o primeiro é uma porcaria. Você, estudante, sofrido e duro, tem direito a escolher 5 quilos entre seus papéis e seus livros e mandar numa caixa de papelão. O problema é que eu tenho, digamos, um pouco mais de 5 quilos e não, não quero fazer graaandes escolhas do que vai e do que fica. Ou você acha que eu tenho coragem de deixar aqui meus já clássicos livros sobre jeu vidéo?? Nem morta!;
1.2. a outra forma de envio é mais abastada. Mas não sei se estudantes podem fazer. Enfim, trata-se de um envio de barco de 50 quilos (25kg +25kg) também de papéis e livros. Já melhorou, mas não resolve meu problema com os jogos e as roupas pesadas. Sim!, eu vou levar minhas roupas pesadas nem que para usá-las tenha que me juntar aos brasileiros que vão à São Joaquim ver neve cair no único dia do ano, ou que passam uma semana em Bariloche. Sim, sou muito apegada às minhas coisas. E, sim, sei que isso não é bom;
1.3. a terceira e última alternativa para rever minhas coisinhas preciosas no Brasil seria contactar uma empresa de navio e alugar um contêiner. Mas ainda não sei como fazer isso. Dr. T. já deu uma olhada na internet, eu também, mas teremos que marcar uma visita do moço para ele fazer uma avaliação de quanto de espaço no contêiner precisaremos e quanto sairá a brincadeira. Bom, pelo menos saberemos que os jogos vão. Um dia eles chegam. Ok, três, quatro meses depois eles chegam. Mas a gente aguenta (processo de desapego do trema). E poderemos levar mais coisas como a TV (ela não funcionaria como TV já que a França é outro sistema, mas com o Wii ela funcionaria!) e, quem sabe, o sofá, já que, ao chegarmos, estaremos sem lugar para sentar na sala. Assim que souber como resolver essas questões, posto aqui, don't worry.
2. O segundo motivo de sofrimento é deixar a cidade. E não ter mais Paris, o frio, o sena, as boulanges, a crotte de chien, o bom transporte (metrô, trem, ônibus, bicicleta, pé, etc.), a fartura de jogos, os mestrados (sim, eles me fazem sofrer, mas me dão boas alegrias também), as bibliotecas, as mediatecas, as ludotecas, etc. Paris é sinônimo de muitas lágrimas, boas e ruins. Mas também muito aprendizado, crescimento e felicidade. Fui e sou feliz aqui. Apesar da minha orientadora desafiar minha boa vontade.
3. Para completar, a chegada pode não ser sofrida, mas será difícil. Rio, 40 graus, beleza, caos, essas coisas todas. Adicione transporte ruim, sem job e uma gata que vai bufar por meses os três anos de ausência das ex-"donas" que querem voltar a ser "donas". Meses é bondade minha... isso se ela não pegar as coisas dela e partir com o "tio".